Penso, e volto a pensar,
E as ideias que tinha...
Desaparecem no ar.

Vazio.
É o que sinto.
Vazio por não saber o que fazer.
Vazio por saber que no final...
Estarei sozinho.

Isolado, mas realizado?
Não o sei.
Já não o sei...
O que era, já não é,
E sozinho mantenho-me,
Sem ninguém a quem falar,
Das dúvidas e dos receios,
Das questões que me aparecem.

Mais penso e mais sei,
Que o que quero,
Já não sei...

O tempo passou e esperei que mudasse.
Que mudasse este sentimento.
Que mudasse este vazio.
Que mudasse esta solidão.

Enganei-me. Iludi-me.
Rodeado de pessoas sinto-me só.
Sempre só.

Nem uma poderá afirmar que me conheçe
Nem uma poderá dizer que estou bem.

A mente sempre o previu,
A ilusão sempre o disfarçou,
Apenas a esperança de que...
Fosse apenas um detalhe!
Um detalhe que tudo muda.

O íntimo esconde largas salas vazias,
Onde o eco se parece com mil vozes do Adamastor.
As trancas de ferro deixaram-nas fechadas,
Inacessíveis para toda a gente.
Ou quase toda...

Quando se abrirão?
Quando já não estarei só.
Quando o "só" já não existir.

Aqui escrevo o que os meus olhos sentem

Aqui escrevo o que os meus olhos sentem.
Vejo aquilo que acontece e que não acontece
e sinto-me feliz...
Feliz na infelicidade dos actos,
Feliz por viver como vivo.

Não sendo eu como gostaria,
escrevo o que vejo, escrevo o que os meus olhos sentem.
Sigo em frente e sinto-me feliz...
Feliz pelo negro que em mim aumenta
Feliz pelo que me rodeia sem eu o apreciar.

Resigno-me por aquilo que não concretizo,
Apenas escrevo o que os meus olhos sentem...

Melancolia

Por mais que o tente esconder,
algo há em mim que trapaça.
Por mais que não o queira mostrar,
a melancolia regressa quando não a quero...

Não a quero e nem a desejo,
mas parte de mim é constituída por ela.
Rodeio-me daquilo que quero ter,
Mas ao expoente não o chego.

O expoente torna-se então a meta inatingível.
Torna-se aquilo que mais quero...
Torna-se no factor que me impede de avançar.

Rodeio-me de tudo aquilo que finjo ter.
Dos tão alegres sentimentos que possuo no meu ser,
Mas um há que se eleva sobre os restantes.

Esse que tantos flagelos já criou e que me deixa a sofrer.
A melancolia sobrepõe-se a ele, e apaga-me...

Sinto

Sinto que não o consigo.
Tento chegar ao nível que procuro.
Ansiei pelo momento que chegou tão rapidamente,
ansiei para que a explosão de sentimentos se desse sincronizadamente.

Sincronizadamente...
Sincronizadamente espero que tal aconteça
E sento-me e espero.
E mantenho-me no sítio habitual da solidão.

A solidão que tanto ataca, que tanto deixa...
Não o consigo fazer!
Raios! Que a morte me leve por tais actos,
Pela cobardia dos sentimentos.
Pela cobardia de não falar
De me faltar o que preciso para os actos que quero.

Sinto que falho.
Sinto que não o conseguirei...

Ilusão

I
Iludo-me
Aí está a essencia de tudo.
Vejo, sinto e imagino
o que de facto, apenas existe na minha mente.
Por mais que tento parar,
não o consigo.
Faço as coisas por fazer,
Por tentar que complita.
Afinal tudo não passa de desvaneio.
Apenas algo que não acontece.

II
Espero pelo momento, para que se concretize,
e cheio de esperança
deixo que outros valores se manifestem,
mas já demasiado tarde.
O que esperei hei de esperar
O que sonhei, hei de sonhar.
E a espera por si se mantém
Durante a eternidade dos segundos.
Iludo-me por aquilo que não devo
Iludo-me pelos sentimentos que tento encontrar...

O consciente já quase não actua...

O consciente já quase não actua...
O sentimento é forte demais,
e quase que fala por mim.

A imagem dela é-me impossível.
Quero-a tanto que por vezes
pequenos olhares me saltam da face
e lhe caem à sua frente...
ela sem notar.

Este sentimento a que me refiro,
este ardor que o poeta já descrevia
invade-me e eleva-me.
Eleva-me ao estado máximo do ser,
ao estado em que ela se torna Deusa.
Deusa ominpotente, e eu apenas um leigo.
Um leigo pela sua beleza,
pelo seu simples sorriso,
que me derrete como gelo no quente.

Assim me encontro à sua frente...
Relógios param, e aí tudo explode
num turbilhão de emoções,
que apenas consigo exprimir
através da lógica dos nossos
corações...

Um sonho

Era meramente um sonho...
Aquilo que vi, que ouvi, que senti,
tudo não passou de um sonho.

Não podia ser verdade, bem o sei
era simplesmente utópico.
Eu e ela, e todo o mundo parado
vendo aquilo que vi, que ouvi, que senti

Aquilo que anseio, realizado.
Aquilo que quero, feito.
E assim sem mais nem menos
Concretizava-se. Ela.

Meramente um sonho.
Peço que se repita...
Que tenha mais daquilo que quero.
E peço que nunca mais volte
por mostrar o que não tenho.

Um sonho.
Um simples sonho que me remete para...
para Ela.

Olhar

Olho para ela e tudo pára
Volto a olhar, esperando que seria apenas devaneio.
Não o é.
É essa estranha coisa que se sente
Que nos confunde, nos faz parar.

Vejo diante de mim esse ser que me faz sentir tão especial
Tão pequeno, tão miserável, tão sem forças
Vejo diante de mim aquilo que não posso tocar
Aquilo para o qual me apetece saltar e encher de...

Tão sem forças que me vejo diante de ela.
Sem força suficiente para lhe dizer o que quero
O que anseio, o que desejo até à mais ínfima célula do meu corpo

Não será apenas algo passageiro?
Algo que se vai com o tempo
Quando a alma retorna ao que era antigamente
e não mais penso nela?

Isso não o penso,
Pois enquanto que dura isto que sinto
Flutuo pelo globo inteiro
E vejo tudo o que lhe quero dar.

Sem fim isso me apetece
Até que volto a assentar sobre a Terra
E volto simplesmente a olhar para ela,
Com o ar de quem já viajou.

Nem sempre o silêncio é a melhor solução

Nem sempre o silêncio é a melhor solução
O calar dá-nos tranquilidade
Mas não nos deixa expressar
Mesmo estando nós por onde estamos

Acerco-me desta mesa e escrevo.
Escrevo sob a luz tórrido
que sinto queimar-me as costas,
mesmo que esteja frio,
e mesmo que não o deseje.

Quando o posso fazer,
o silência apodera-se de mim,
e apenas a visão me salva.
A visão que tanto privilegio e que tanto me dá
Mas que o silêncio usa

O cansaço chega e não mais fico aqui.
E por muito que não queira, acabo.
Tal como acaba aquilo que espero,
tal comoa caba a minha busca por ela...

O Tempo

Admiro a passagem do Tempo.
Com todos os seus mecanismos:
os de desenvolvimento da natureza,
de amadurecimento da mente.

Mas mesmo não parando,
parece que pára para mim
e me deixa inconsciente,
com a consiência consciente...

Eu consigo ver e aperceber-me
que tudo o que tento falha.
Que os objectivos mais escondidos
deste meu órgão a que chamam coração
não os consigo chegar.

Nem sequer os consigo perceber,
nem sequer os ouço.
Ou ouço bem demais e não o realizo...
Não sei se é porque não consigo,
ou se é porque não o tento

O que sei é que o tempo não pára,
mesmo que o pareça

Não sei

Não sei
Não compreendo
Não percebo
O porquê de tal indecisão.

A indecisão que me trás aqui
Que me deixa sentado,
E a olhar sem conseguir avançar
Por aquilo que realmente quero

Isso eu não o encontro.
Vejo outros com algo a amar
E cá fico à beira do rio, qual Ricardo Reis
Esperando que ela apareça

Caso não apareça...
Pelo menos não hei de pensar um dia
Que o soube, que o compreendi
Ou que o percebi...
Os poemas criados nos momentos de solidão, nos momentos melancólicos, nos mais variados momentos...